quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O CRENTE E A GUERRA DE TRINCHEIRAS

Existem alguns interessantes estudos sobre palavras em Gálatas 5.16,17. As palavras que estudaremos são: “Andai”, “Espírito”, “Concupiscência”, “Contra”, “opostos”, e “não façais”.

O crente é exortado a andar no Espírito. A palavra “andar” é usada num antigo manuscrito grego na sentença: “estou andando num estado desgraçado”. O escritor dessa sentença estava comentando sobre a espécie de vida que estava levando, sobre como estava comportando-se. Mas, quanto ao nosso texto, a forma do grego mostra que se trata de um mandamento que deve ser constantemente obedecido: “Conduzi-vos constantemente no Espírito”. O vocábulo “Espírito”, que aqui se refere ao espírito Santo, está no locativo de esfera, e poderia ser graficamente representado por um ponto dentro de um círculo. A exortação, portanto, diz: “Conduzi-vos constantemente na esfera do Espírito”. Em outras palavras, determinai cada pensamento, palavra ou ação pela liderança do Espírito, por intermédio da palavra, e pensai cada pensamento, dizei cada palavra e fazei cada ação numa atitude de completa dependência da energia capacitada pelo Espírito Santo, “... levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co 10.5).

Se fizermos isso, temos a garantia e a promessa de Deus de que não cumpriremos a concupiscência da carne. A palavra “carne” neste caso se refere à natureza caída e depravada com a qual nascemos, cujo poder, todavia, foi quebrado quando fomos salvos. O vocábulo “concupiscência” tem sido um tanto alterado em seu sentido com o passar dos anos. O sentido do termo original assim traduzido, contudo, é o de um simples desejo. O desejo pode ser bom ou mau, conforme o contexto. Note-se que o termo grego tem, nesse versículo, uma preposição que intensifica o seu significado. Pois não se trata apenas de um desejo, mas antes, de um anelo. Porém, na medida em que determinarmos nossa conduta por aquilo que o Espírito Santo nos levar a fazer, e cedermos a Ele para receber a energia divina que nos capacita a pô-lo em prática, temos a promessa de Deus de que não cumpriremos tal desejo (existe uma dupla negação no grego o que fortalece a negativa), de que de maneira alguma, em absoluto, haveremos de cumprir os anelos da natureza caída.

A explicação sobre como somos libertados desses anelos e sobre as ações que satisfariam esses anelos, se encontra no versículo dezessete. A natureza caída milita contra o Espírito. Entretanto, a palavra aqui traduzida como “milita” é a mesma que no versículo anterior é traduzida como “concupiscência”. Segue-se que a carne tem um forte desejo contra o Espírito. Já a palavra “contra” vem de uma preposição grega que literalmente quer dizer “para baixo”. A idéia envolvida é a de derrota, de supressão. Poderíamos traduzir essa sentença como: “A carne tem o anelo constante de suprimir o Espírito”. A obra do Espírito Santo no crente é dupla, a saber, expulsar o pecado da vida do crente e produzir Seu próprio fruto. A natureza caída tem o forte desejo de suprimir o Espírito Santo. Porém, O Espírito Santo, por sua vez, também tem o forte desejo d suprimir a natureza caída em suas tentativas de fazer o crente obedecer aos seus reclamos. São contrários um ao outro. As palavras aqui traduzidas como “entre si” são um pronome recíproco no grego. O Espírito e a carne são recíprocos em seu antagonismo um contra o outro. A palavra “opostos” fala de uma atitude permanente de oposição um contra o outro, tanto por parte da carne como por parte do Espírito. No grego a imagem dada pela palavra é a de dois exércitos em campos opostos, cada qual cavando suas trincheiras com o propósito de assegurar o terreno que possui e de levar a efeito uma guerra de trincheiras. Entrincheiraram-se ambos para um longo combate de resistência.

Essa luta prossegue incessantemente no coração de todo filho de Deus. Só termina por ocasião do falecimento do crente. O Espírito Santo é a provisão divina para ser alcançada a vitória sobre o pecado, “para que não façais o que porventura seja do vosso querer”. O papel que deve ser desempenhado pelo crente nessa guerra de trincheiras se encontra em nosso versículo anterior, a saber, que devemos determinar constantemente cada pensamento, palavra e ação segundo a liderança do Espírito, cedendo a Ele para receber a energia de agir sobre essas premissas. Portanto, a tradução inteira desses dois versículos poderia ser: “Mas digo, conduzi-vos constantemente dentro da esfera do Espírito, e não cumprireis os anelos da carne. Pois a carne anela constantemente por suprimir o Espírito, e o Espírito anela constantemente por suprimir a carne, e esses estão entrincheirados numa atitude permanente de oposição mútua, a fim de que não façais o que porventura seja do vosso querer”.

(K.S.Wuest/Jóias do NT grego)